Francisco Buarque de Hollanda, conhecido como Chico Buarque (
Rio de Janeiro,
19 de junho de
1944) é um
músico,
dramaturgo e
escritor brasileiro. Filho do historiador
Sérgio Buarque de Hollanda, iniciou sua carreira na
década de 1960, destacando-se em
1966, quando venceu, com a canção A Banda, o
Festival de Música Popular Brasileira. Em
1969, com a crescente repressão da
Ditadura Militar no Brasil, se auto-exilou na
Itália, tornando-se, ao retornar, um dos artistas mais ativos na crítica política e pela
democratização do
Brasil. Na carreira literária, foi ganhador do
Prêmio Jabuti, pelo livro
Budapeste, lançado em
2004.Casou-se e separou-se com a atriz
Marieta Severo, com quem teve três filhas:
Sílvia, que é atriz e casada com
Chico Diaz, Helena, casada com o percussionista
Carlinhos Brown e Luísa. É irmão das cantoras
Miúcha, Ana de Hollanda e Cristina.
BiografiaFilho de
Sérgio Buarque de Holanda, um importante historiador e jornalista brasileiro e de Maria Amélia Cesário Alvim.Em
1946, passou a morar em
São Paulo, onde o pai assumira a direção do
Museu do Ipiranga. Sempre revelou interesses pela música - interesse que foi bastante reforçado pela convivência com intelectuais como
Vinicius de Moraes e
Paulo Vanzolini[1].Em
1953, Sérgio Buarque de Holanda foi convidado para lecionar na Universidade de Roma, consequentemente, a família muda-se para a
Itália. Chico torna-se trilingüe, na escola fala inglês, e nas ruas, italiano. Nessa época, suas primeiras "marchinhas de carnaval" são compostas, e, com as irmãs mais novas, Piiizinha, Cristina e Ana, encenadas
[1].De volta ao Brasil, produz suas primeiras crônicas no jornal Verbâmidas, do Colégio Santa Cruz, nome criado por ele. Sua primeira aparição na imprensa não foi cultural, mas policial, publicada, inclusive, no jornal
Última Hora, de
São Paulo. Com um amigo, furtou um carro para passear pela madrugada paulista, algo relativamente comum na época
[1]. Foi preso. "Pivetes furtaram um carro: presos" foi a manchete no dia seguinte com uma a foto de dois menores com tarjas pretas nos olhos. Chico não pôde mais sair sozinho à noite até que completasse 18 anos
[1].
Início de CarreiraChico Buarque chegou a ingressar no curso de Arquitetura na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU) em 1963. Cursou dois anos e parou em 1965, quando começou a se dedicar à carreira artística. Neste ano, lançou Sonho de Carnaval, inscrita no I Festival Nacional de Música Popular Brasileira, transmitida pela TV Excelsor, além de Pedro Pedreiro, música fundamental para experimentação do modo como viria a trabalhar os versos, com rigoroso trabalho estilístico morfológico e politização, mais significativa na
década de 70. A primeira composição séria, Canção dos Olhos, é de
1961.Conheceu
Elis Regina, que havia vencido o
Festival de Música Popular Brasileira (
1965) com a canção Arrastão; mas a cantora acabou desistindo de gravá-lo devido à impaciência com a timidez do
compositor. Chico Buarque se revelou ao público brasileiro quando ganhou o mesmo Festival, no ano seguinte (
1966), transmitido pela
TV Record, com A Banda, interpretada por
Nara Leão (empatou em primeiro lugar com Disparada, de
Geraldo Vandré). No entanto,
Zuza Homem de Mello, no livro A Era dos Festivais - Uma Parábola, revelou que a banda venceu o festival. O musicólogo preservou por décadas as folhas de votação do festival. Nelas, constam que a música a banda ganhou a competição por 7 a 5. Chico, ao perceber que ganharia, foi até o presidente da comissão e disse não aceitar a derrota de Disparada. Caso isso acontecesse, iria na mesma hora entregar o prêmio ao concorrente.No dia 10 de outubro de 1966, data da final, iniciou o processo que designaria Chico Buarque como unanimidade nacional, alcunha criada por
Millôr Fernandes.Canções como Ela e sua Janela, de
1966, começam a demonstrar a face lírica do compositor. Com a observação da sociedade, como nas diversas vezes em que citação do vocábulo janela está presente em suas primeiras canções: Juca, Januária, Carolina, A Banda e Madelena foi pro Mar. As influências de
Noel Rosa podem ser notadas em A Rita,
1965, citado inclusive na letra, e
Ismael Silva, como em marchas-ranchos.
Festivais de MPB nos anos de 1960No festival de
1967 faria sucesso também com
Roda Viva, interpretada por ele e pelo grupo
MPB-4 -- amigos e intérpretes de muitas de suas canções. Em
1968 voltou a vencer outro Festival, o III
Festival Internacional da Canção da
TV Globo. Como compositor, em parceira com
Tom Jobim, com a canção Sabiá. Mas desta vez a vitória foi contestada pelo público, que preferiu a canção que ficou em segundo lugar:
Pra não dizer que não falei de flores, de
Geraldo Vandré.A participação no Festival, com A Banda, marcou a primeira aparição pública de grande repercussão apresentando um estilo amparado no movimento musical urbano carioca da
Bossa nova, surgido em
1957. Ao longo da carreira, o samba e a MPB também seriam estilos amplamente explorados.
Trilha Sonora e Adaptação de Livros
Chico participou como ator e compôs várias canções de sucesso para o filme Quando o Carnaval chegar, musical de
Cacá Diegues. Compôs a canção-tema do
longa-metragem Vai trabalhar Vagabundo, de
Hugo Carvana -- Carvana chegou a modificar o roteiro a fim de usá-la melhor. Faria o mesmo com os filmes seguintes desse diretor: Se segura malandro e Vai trabalhar vagabundo II. Adaptou canções de uma peça infantil para o filme
Os Saltimbancos Trapalhões do grupo humorístico
Os Trapalhões e com interpretações de
Lucinha Lins. Outras adaptações de uma peça homônima de sua autoria foram feitas para o filme A
Ópera do Malandro, mais um musical cinematográfico. Vários filmes que tiveram canções-temas de sua autoria e que fizeram muito sucesso além dos citados:
Bye Bye Brasil,
Dona Flor e seus dois maridos e Eu te amo, os dois últimos com
Sônia Braga. Recentemente, chegou a ter uma participação especial como ator no filme
Ed Mort. Ele escreveu um livro que virou filme,
Benjamim, que foi ao ar nos cinemas em 2003, tendo como personagens principais
Cleo Pires,
Danton Melo e
Paulo José.
Teatro e literaturaMusicou as peças
Morte e vida severina e o infantil
Os Saltimbancos. Escreveu também várias peças de teatro, entre elas
Roda Viva (proibida),
Gota d'Água,
Calabar (proibida), Ópera do malandro e alguns livros: Estorvo, Benjamim e
Budapeste.Chico Buarque sempre se destacou como
cronista nos tempos de colégio, seu primeiro livro foi publicado em 1966, trazia os manuscritos das primeiras composições e o conto
Ulisses, e ainda uma crônica de
Carlos Drummond de Andrade sobre A Banda. Em
1974, escreve a
novela pecuária Fazenda modelo e, em
1979, Chapeuzinho Amarelo, um livro-poema para crianças. A bordo do Rui Barbosa foi escrito em
1963 ou
1964 e publicado em
1981. Em
1991, publica o romance Estorvo e, quatro anos depois, escreve o livro Benjamim. Em
2004, o romance
Budapeste ganha o
Prêmio Jabuti de melhor Livro de Ficção do ano.
[2] Oficialmente, a vendagem mínima de seus livros é de 500 mil exemplares no
Brasil.
A crítica à DitaduraAmeaçado pelo
Regime Militar no Brasil, esteve exilado na
Itália em
1969, onde chegou a fazer espetáculos com
Toquinho. Nessa época teve suas canções
Apesar de você (alusão negativa ao presidente
Emílio Garrastazu Médici) e Cálice censuradas pela
censura brasileira. Adotou o
pseudônimo de
Julinho da Adelaide, com o qual compôs apenas três canções: "Milagre Brasileiro", "Acorda amor" e "Jorge Maravilha". Na Itália Chico tornou-se amigo do cantor
Lucio Dalla, de quem fez a belíssima Minha História, versão em português (
1970) da canção Gesù Bambino (título verdadeiro 4 marzo 1943), de
Lucio Dalla e
Paola Palotino.Ao voltar ao Brasil continuou com composições que denunciavam aspectos sociais, econômicos e culturais, como a célebre Construção ou a divertida Partido Alto. Apresentou-se com
Caetano Veloso (que também foi exilado, mas na
Inglaterra) e
Maria Bethânia. Teve outra de suas músicas associada a críticas a um
presidente do Brasil. Julinho da Adelaide, aliás, não era só um pseudônimo, mas sim a forma que o compositor encontrou para driblar a censura, então implacável ao perceber seu nome nos créditos de uma música. Para completar a farsa e dar-lhe ares de veracidade, Julinho da Adelaide chegou a ter cédula de identidade e até mesmo a conceder entrevista a um jornal da época.Uma das canções de Chico Buarque que criticam a ditadura, é uma carta em forma de música, uma carta musicada que ele fez em homenagem ao
Augusto Boal, que vivia no exílio, quando o Brasil ainda vivia sob a ditadura militar.A canção se chama Meu Caro Amigo e foi dirigida a Boal, que na época estava exilado em Lisboa. A canção foi lançada originalmente num disco de título quase igual, chamado Meus Caros Amigos, do ano de
1976.