terça-feira, 28 de julho de 2009

William Shakespeare.


William Shakespeare (baptizado em 26 de Abril de 156423 de Abril de 1616) foi um poeta e dramaturgo inglês, tido como o maior escritor do idioma inglês e o mais influente dramaturgo do mundo.É chamado frequentemente de poeta nacional da Inglaterra e de "Bardo do Avon" (ou simplesmente The Bard, "O Bardo"). De suas obras restaram até os dias de hoje 38 peças, 154 sonetos, dois longos poemas narrativos, e diversos outros poemas. Suas peças foram traduzidas para os principais idiomas do globo, e são encenadas mais do que qualquer outro dramaturgo. Muitos de seus textos e temas, especialmente os do teatro, permaneceram vivos até aos nossos dias, sendo revisitados com freqüência pelo teatro, televisão, cinema e literatura. Entre suas obras mais conhecidas estão Romeu e Julieta, que se tornou a história de amor por excelência, e Hamlet, que possui uma das frases mais conhecidas da língua inglesa: To be or not to be: that's the question (Ser ou não ser, eis a questão).

Shakespeare nasceu e foi criado em Stratford-upon-Avon. Aos 18 anos, segundo alguns estudiosos, casou-se com Anne Hathaway, que lhe concedeu três filhos: Susanna, e os gêmeos Hamnet e Judith. Entre 1585 e 1592 William começou uma carreira bem-sucedida em Londres como ator, escritor e um dos proprietários da companhia de teatro chamada Lord Chamberlain's Men, mais tarde conhecida como King's Men. Parece que ele reformou a Stratford em torno de 1613, morrendo três anos depois. Restaram poucos registros da vida privada de Shakespeare, e existem muitas especulações sobre assuntos como a sua aparência física, sexualidade, crenças religiosas, e se algumas das obras que lhe são atribuídas teriam sido escritas por outros autores.

Shakespeare produziu a maior parte de sua obra entre 1590 e 1613. Suas primeiras peças eram principalmente comédias e histórias, gêneros que ele levou ao ápice da sofisticação e do talento artístico ao fim do século XVI. A partir de então escreveu apenas tragédias até por volta de 1608, incluindo Hamlet, Rei Lear e Macbeth, consideradas algumas das obras mais importantes na língua inglesa. Nesta sua última fase, escreveu tragicomédias, também conhecidas como romances, e colaborou com outros dramaturgos. Diversas de suas peças foram publicadas, em edições com variados graus de qualidade e precisão, durante sua vida. Em 1623 dois de seus antigos colegas de teatro publicaram o First Folio, uma coletánea de suas obras dramáticas que incluía todas as peças (com a exceção de duas) reconhecidas atualmente como sendo de sua autoria.

Shakespeare foi um poeta e dramaturgo respeitado em sua própria época, mas sua reputação só viria a atingir o nível em que se encontra hoje no século XIX. Os românticos, especialmente, aclamaram a genialidade de Shakespeare, e os vitorianos idolatraram-no como um herói, com uma reverência que George Bernard Shaw chamava de "bardolatria".[6] No século XX sua obra foi adotada e redescoberta repetidamente por novos movimentos, tanto na academia e quanto na performance. Suas peças permanecem extremamente populares hoje em dia , e são estudadas, encenadas e reinterpretadas constantemente, em diversos contextos culturais e políticos, por todo o mundo.

Nome:

Embora o mundo o conheça como William Shakespeare, na época de Elizabeth I de Inglaterra a ortografia não era fixa e absoluta, então encontrou-se nos documentos os nomes Shakspere, Shaksper e Shake-speare.

Vida

Primeiros anos:


Acredita-se que William Shakespeare foi filho de John Shakespeare, um bem-sucedido luveiro e sub-prefeito de Straford (depois comerciante de lãs), vindo de Snitterfield, e Mary Arden, filha afluente de um rico proprietário de terras. Embora a sua data de nascimento seja desconhecida, admite-se a de 23 de Abril de 1564 com base no registro de seu batizado, a 26 do mesmo mês, devido ao costume, à época, de se batizarem as crianças três dias após o nascimento. Shakespeare foi o terceiro filho de uma prole de oito e o mais velho a sobreviver.

Muitos concordam que William foi educado em uma excelente grammar schools da época, um tipo de preparação para a Universidade. No entanto, Park Honan conta, em Shakespeare, uma vida que John foi obrigado a tirá-lo desta escola, quando William deveria ter quinze ou dezesseis anos (algumas fontes citam doze anos). Na década de 1570, John passou a ter um declínio econômico que o impossibilitou junto aos credores e teve um desagradável descenso da sociedade. Acredita-se que, por causa disso, logo o jovem Shakespeare possuiu uma formação colegial incompleta. Segundo certos biógrafos, Shakespeare precisou trabalhar cedo para ajudar a família, aprendendo, inclusive, a tarefa de esquartejar bois e até abater carneiros.

Em 1582, aos 18 anos de idade, casou-se com Anne Hathaway, uma mulher de 26 anos, que estava grávida. Há fontes que dizem que Shakespeare queria ter uma vida mais favorável ao lado de uma esposa rica. O casal teve uma filha, Susanna, e dois anos depois, os gêmeos Hamnet e Judith.

Após o nascimento dos gêmeos, há pouquíssimos vestígios históricos a respeito de Shakespeare, até que ele é mencionado como parte da cena teatral de Londres em 1592. Devido a isso, estudiosos referem-se aos anos 1585 e 1592 como os Anos perdidos de Shakespeare.

As tentativas de explicar por onde andou William Shakespeare durante esses seis anos, foi o motivo pelo qual surgiram dezenas de anedotas envolvendo o dramaturgo. Nicholagas Rowe, o primeiro biógrafo de Shakespeare, conta que ele fugiu de Stratford para Londres devido a uma acusação envolvendo o assassinato de um veado numa caça furtiva, em propriedade alheia (provavelmente de Thomas Lucy). Outra história do século XVIII é a de que Shakespeare começou uma carreira teatral com os Lord Chamberlains.

Londres e carreira teatral:

Foi em Londres onde se atribui a Shakespeare seus momentos de maiores oportunidades para destaque. Não se sabe de exato quando Shakespeare começara a escrever, mas alusões contemporâneas e registros de performances mostram que várias de suas peças foram representadas em Londres em 1592. Neste período, o contexto histórico favorecia o desenvolvimento cultural e artístico, pois a Inglaterra vivia os tempos de ouro sob o reinado da rainha Elizabeth I. O teatro deste período, conhecido como teatro elisabetano, foi de grande importância e primor para os ingleses da alta sociedade. Na época, o teatro também era lido, e não apenas assistido e encenado. Havia companhias que compravam obras de autores em voga e depois passavam a vender o repertório às tipografias. As tipografias imprimiam os textos e vendiam a um público leitor que crescia cada vez mais. Isso fazia com que as obras ficassem em domínio público.

Biógrafos sugerem que sua carreira deve ter começado a qualquer momento a partir de meados dos anos 1580. Ao lado do The Globe, haveria um matadouro, onde aprendizes do açougue deveriam trabalhar. Ao chegar em Londres, há uma tradição que diz que Shakespeare não tinha amigos, dinheiro e estava pobre, completamente arruinado. Segundo um biógrafo do século XVIII, ele foi recebido pela companhia, começando num serviço pequeno, e logo fora subindo de cargo, chegando provavelmente à carreira de ator. Há referências que apresentam Shakespeare como um cavalariço. Ele dividiria seu emprego entre tomar conta dos cavalos dos espectadores do teatro, atuar no palco e auxiliar nos bastidores. Segundo Rowe, Shakespeare entrou no teatro como ponto, encarregado de avisar os atores o momento de entrarem em cena. O então cavalariço provavelmente tinha vontade mesmo era de atuar e de escrever.

Seu talento limitante como ator teria o inspirado a conhecer como funcionava o teatro e seu poeta interior foi floreando, floreando, foi lembrando-se dos textos dos mestres dramáticos da escola, e começou a experimentar como seria escrever para teatro. Desde 1594, as peças de Shakespeare foram realizadas apenas pelo Lord Chamberlain's Men. Com a morte de Elizabeth I, em 1603, a companhia passou a atribuir uma patente real ao novo rei, James I da Inglaterra, mudando seu nome para King's Men (Homens do Rei).

Todas as fontes marcam o ano de 1599 como o ano da fundação oficial do Globe Theatre. Foi fundado por James Burbage e ostentava uma insígnia de Hércules sustentando o globo terrestre. Registros de propriedades, compras, investimentos de Shakespeare o tornou um homem rico. William era sócio do Globe. O edifício tinha forma octogonal, com abertura no centro. Não existia cortina e, por causa disso, os personagens mortos deveriam ser retirados por soldados, como mostra-se em Hamlet. Inclusive, todos os papéis eram representados pelos homens, sendo os mais jovens os encarregados de fazerem papéis femininos. Em 1597, fontes dizem que ele comprou a segunda maior casa em Stratford, a New Place. De 1601 a 1608, especula-se que ele esteve motivado para escrever Hamlet, Otelo e Macbeth. Em 1613, O Globe Theatre foi destruído pelo fogo. Alguns biógrafos dizem que foi durante a representação da peça Henry VIII.

Shakespeare teria estado um tanto cansado e por esse motivo resolveu se desligar do Globe e voltar para Stratford, onde a família o esperava.

Últimos anos e morte:

Após 1606-7, Shakespeare escreveu peças menores, que jamais são atribuídas como suas após 1613. Suas últimas três obras foram colaborações, talvez com John Fletcher, que sucedeu-lhe com o cargo de dramaturgo no King's Men. Escreveu a sua última peça, A Tempestade terminada somente em 1613.[7]

Em Strantford, a tumba de Shakespeare.

Então, Rowe foi o primeiro biógrafo a dizer que Shakespeare teria voltado para Stratford algum tempo antes de sua morte; mas a aposentadoria de todo o trabalho era rara naquela época; e Shakespeare continuou a visitar Londres. Em 1612, foi chamado como testemunha em um processo judicial relativo ao casamento de sua filha Mary. Em março de 1613, comprou uma gatehouse no priorado de Blackfriars; a partir de novembro de 1614, ficou várias semanas em Londres ao lado de seu genro John Hall.

William Shakespeare morreu em 23 de Abril de 1616, mesmo dia de seu aniversário. Susanna havia se casado com um médico, John Hall, em 1607, e Judith tinha se casado com Thomas Quiney, um vinificador, dois meses antes da morte do pai. A morte de Shakespeare envolve mistério ainda hoje. No entanto, é óbvio que existam diversas anedotas. A que mais se propagou é a de que Shakespeare estaria com uma forte febre, causada pela embriaguez. Recebendo a visita de Ben Jonson e de Michael Drayton, Shakespeare bebeu demais e, segundo diversos biógrafos, seu estado se agravou.

Bom amigo, por Jesus, abstém-te
de profanar o corpo aqui enterrado.
Bendito seja o homem que respeite estas pedras,
e maldito o que remover meus ossos.

Epitáfio na tumba de Shakespeare

Admite-se que Shakespeare deixou como herança sua segunda melhor cama para a esposa. Em sua vontade, ele deixou a maior parte de sua propriedade à sua filha mais velha, Susanna. Essa herança intriga biógrafos e estudiosos porque, afinal, como Anne Hathaway aguentaria viver mais ou menos vinte anos cuidando de seus filhos, enquanto Shakespeare fazia fortuna em Londres? O escritor inglês Anthony Burgess tem uma explicação ficcional sobre esse assunto. Em Nada como o Sol, um livro de sua autoria, ele cita Shakespeare espantado em um quarto diante de seu irmão Richard e de sua esposa Anne; estavam nus e abraçados.

Os restos mortais de Shakespeare foram sepultados na igreja da Santíssima Trindade (Holy Trinity Church) em Stratford-upon-Avon. Seu túmulo mostra uma estátua vibrante, em pose de literário, mais vivo do que nunca. A cado ano, na comemoração de seu nascimento, é colocada uma nova pena de ave na mão direita de sua estátua. Acredita-se que Shakespeare temia o costume de sua época, em que provavelmente havia a necessidade de esvaziar as mais antigas sepulturas para abrir espaços à novas e, por isso, há um epitáfio na sua lápide, que anuncia a maldição de quem mover seus ossos.

Com a morte de Shakespeare, a Inglaterra passou por alguns momentos políticos e religiosos. Jaime I morreu em 27 de março de 1625, em Theobalds House, e tão logo sua morte foi anunciada, Carlos I, seu filho com Ana da Dinamarca, assumiu o reinado. É válido lembrar que, com a morte de Elizabeth I, Shakespeare e os demais dramaturgos da época não foram prejudicados. Jaime I, o sucessor da rainha, contribuiu para o florescimento artístico e cultural inglês; era um apaixonado por teatro.

Em 1649, a Câmara dos Comuns cria uma corte para o julgamento de Carlos I. Era a primeira vez que um monarca seria julgado na história da Inglaterra. No dia 29 de janeiro do mesmo ano, Carlos I foi condenado a morte por decapitação. Ele foi decapitado no dia seguinte. Foi enterrado no dia 7 de fevereiro na Capela de St.George do Castelo de Windsor em uma cerimônia privada.

Nota: É bem conhecida a coincidência das datas de morte de dois dos grandes escritores da humanidade, Miguel de Cervantes e William Shakespeare, ambos com data de falecimento em 23 de Abril de 1616). Porém, é importante notar que o Calendário gregoriano já era utilizado na Espanha desde o século XVI, enquanto que na Inglaterra sua adoção somente ocorreu em 1751. Daí, em realidade, Miguel de Cervantes faleceu dez dias antes de William Shakespeare.

Peças:

Os eruditos costumam anotar quatro períodos na carreira de dramaturgia de Shakespeare. Até meados de 1590, escreveu principalmente comédias, influenciado por modelos das peças romanas e italianas. O segundo período iniciou-se aproximadamente em 1595, com a tragédia Romeu e Julieta e terminou com A Tragédia de Júlio César, em 1599. Durante esse tempo, escreveu o que são consideradas suas grandes comédias e histórias. De 1600 a 1608, o que chamam de "período sombrio", Shakespeare escreveu suas mais prestigiadas tragédias: Hamlet, Rei Lear e Macbeth. E de aproximadamente 1608 a 1613, escrevera principalmente tragicomédias e romances.

Os primeiros trabalhos gravados de Shakespeare são Ricardo III' e as três partes de Henry V, escritas em 1590, adiantados durante uma moda para o drama histórico. É difícil datar as primeiras peças de Shakespeare, mas estudiosos de seus textos sugerem que A Megera Domada, A Comédia dos Erros e Titus Andronicus pertecem também ao seu primeiro período. Suas primeiras histórias, parecem dramatizar os resultados destrutivos e fracos ou corruptos do Estado e têm sido interpretadas como uma justificação para as origens da dinastia Tudor. Suas composições foram influenciadas por obras de outros dramaturgos isabelinos, especialmente Thomas Kyd e Christopher Marlowe, pelas tradições do teatro medieval e pelas peças de Sêneca. A Comédia dos Erros também foi baseada em modelos clássicos.

As clássicas comédias de Shakespeare, contendo plots (centro da ação, o núcleo da história) duplos e sequências cênicas de comédia, cederam, em meados de 1590, para uma atmosfera romântica em que se encontram suas maiores comédias. Sonho de uma Noite de Verão é uma mistura de romance espirituoso, fantasia, e envolve também a baixa sociedade. A sagacidade das anotações de Muito Barulho por Nada', a excelente definição da área rural de Como Gostais, e as alegres sequências cênicas de Noite de Reis completam essa sequência de ótimas comédias. Após a peça lírica Ricardo II, escrito quase inteiramente em versículos, Shakespeare introduziu em prosa as histórias depois de 1590, incluindo Henry VI, parte I e II, e Henry V.

Seus personagens tornam-se cada vez mais complexos e alternam entre o cômico e o dramático ou o grave, ou o trágico, expandindo, dessa forma, suas próprias identidades. Esse período entre essas tais alternações começa e termina com duas tragédias: Romeu e Julieta, sem dúvida alguma sua peça mais famosa e a história sobre a adolescência, o amor e a morte; e Júlio César. O período chamado "período trágico" durou de 1600 a 1608, embora durante esse período ele tenha escrito também a "peça cômica" Medida por medida. Muitos críticos acreditam que as maiores tragédias de Shakespeare representam o pico de sua arte. Seu primeiro herói, Hamlet, provavelmente é o personagens shakesperiano mais discutido do que qualqueis outros, em especial pela sua frase "Ser ou não ser, eis a questão". Ao contrário do reflexivo e pensativo Hamlet, os heróis das tragédias que se seguiram, em especial Otelo e Rei Lear, são precipitados demais e mais agem do que pensam. Essas precipitações sempre acabam por destruir o herói e frequentemente aqueles que ele ama. Em Otelo, o vilão Iago acaba assassinando sua mulher inocente, por quem era apaixonado. Em Rei Lear, o velho rei comete o erro de abdicar de seus poderes, provocando cenas que levam ao assassinato de sua filha e à tortura e a cegueira do Conde de Glócester. Segundo o crítico Frank Kermode, "a peça não oferece nenhum personagem divino ou bom, e não supre da audiência qualquer tipo de alívio de sua crueldade". Em Macbeth, a mais curta e compactada tragédia shakesperiana, a incontrolável ambição de Macbeth e sua esposa, Lady Macbeth, de assassinar o rei legítimo e usurpar seu trono, até à própria culpa de ambos diante deste ato, faz com que os dois se destruam. Portanto, Hamlet seria seu personagem talvez mais admirado. Hamlet reflete antes da ação em si, é inteligente, perceptivo, observador, profundamente proprietário de uma grande sabedoria diante dos fatos. Suas últimas e grandes tragédias, Antônio e Cleópatra e Coriolano contêm algumas das melhores poesias de Shakespeare e foram consideradas as tragédias de maior êxito pelo poeta e crítico T.S. Eliot.

No seu último período, Shakespeare centrou-se na tragicomédia e no romance, completando suas três mais importantes peças dessa fase: Cimbelino, Conto de Inverno e A Tempestade, e também Péricles, príncipe de Tiro. Menos sombrias do que as tragédias, essas quatro peças revelam um tom mais grave da comédia que costumavam produzir na década de 1590, mas suas personagens terminavam com reconciliação e o perdão de seus erros. Certos comentadores vêem essa mudança de estilo como uma forma de visão da vida mais serena por parte de Shakespeare. Shakespeare colaborou com mais dois trabalhos, Henry VIII e Dois parentes nobres, provavelmente com John Fletcher.

Performances:

Ainda não está claro para as companhias as datas exatas de quando Shakespeare escreveu suas primeiras peças. O título da página da edição de 1594 de Titus Andronicus revela que a peça havia sido encenada por três diferentes companhias. Após a peste negra de 1592-3, as peças shakesperianas foram realizadas por sua própria empresa no The Theatre e no The Curtain, em Shoreditch. As multidões londrinas foram ver a primeira parte de Henrique IV. Depois de uma disputa com o caseiro, o teatro foi desmantelado e a madeira usada para a construção do Globe Theatre, a primeira casa de teatro construída por atores para atores. A maioria das peças shakesperianas pós-1599 foram escritas para o Globe, incluindo Hamlet, Otelo e Rei Lear.

Quando a Lord Chamberlain's Men mudou seu nome para King's Men, em 1603, eles entraram com uma relação especial com o novo rei, James I. Embora as performances realizadas são díspares, o King's Men realizou sete peças shakesperianas perante à corte, entre 1 de novembro de 1604 e 31 de outubro de 1605, incluindo duas performances de O mercador de Veneza. Depois de 1608, eles a realizaram no teatro Blackfriars Theatre. A mudança interior, combinada com a moda jacobina de aprimorar a montagem dos palcos e cenários, permitiu com que Shakespeare pudesse introduzir uma fase com dispositivos e recursos mais elaborados. Em Cibelino, por exemplo, "Júpiter desce em trovão e relâmpagos, sentado em uma águia e lança um raio".

Os atores da empresa de Shakespeare incluem o famoso Richard Burbage, William Kempe, Henry Condell e John Heminges. Burbage desempenhou um papel de liderança em muitas performances das peças de Shakespeare, incluindo Richard III, Hamlet, Otelo e Rei Lear. O popular ator cômico Will Kempe encenou o agente Peter em Romeu e Julieta e também encenou em Muito barulho por nada. Kempe fora substituído na virada do século XVI por Robert Armin, que desempenhou papéis como a de Touchstone em Como Gostais e os palhaços no Rei Lear. Sabe-se que em 1613, Sir Henry Wotton encenou Henry VIII e foi nessa encenação que o Globe foi devorado por um incêndio causado por um canhão. Imagina-se que Shakespeare, já retirado em Stratford-on-Avon, retornou para auxiliar na recuperação do prédio.

Imortalidade:

Em 1623, John Heminges e Henry Condell, dois amigos de Shakespeare no King's Men, publicaram uma compilação póstuma das obras teatrais de Shakespeare, conhecida como First Folio. Contém 36 textos, sendo que 18 impressos pela primeira vez. Não há evidências de que Shakespeare tenha aprovado essa edição, que o First Folio define como "stol'n and surreptitious copies". No entanto, é nele em que se encontram um material extenso e rico do trabalho de Shakespeare.

As peças shakesperianas são peculiares, complexas, misteriosas e com um fundo psicológico espantoso. Uma das qualidades do trabalho de Shakespeare foi justamente sua capacidade de individualizar todos seus personagens, fazendo com que cada um se tornasse facilmente identificado. Shakespeare também era excêntrico e se adaptava a gêneros diferentes. Trabalhando com o sombrio e com o divertido ou cômico, Shakespeare conseguiu chegar perto da unanimidade.

Diversos filósofos e psicanalistas estudaram as obras de Shakespeare e a maioria encontrou uma riqueza psicológica e existencial. Entre eles, Arthur Schopenhauer, Freud e Goethe são os que mais se destacam. No Brasil, Machado de Assis foi muito influenciado pelo dramaturgo. Diversas fontes alegam que Bentinho, de Dom Casmurro, seja a versão tropical de Otelo. A revolta dos canjicas, em O Alienista, é provavelmente uma outra versão da revolta fracassada do Jack Cage, descrita em Henrique IV. Na introdução de A Cartomante, Assis utiliza a frase "há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe vossa vã filosofia", frase que pode ser encontrada em Hamlet.

Poemas:

Em 1593 e 1594, quando os teatros foram fechados por causa da peste, Shakespeare publicou dois poemas eróticos, hoje conhecidos como Vênus e Adônis e O Estupro de Lucrécia. Ele os dedica a Henry Wriothesley, o que fez com que houvesse várias especulações a respeito dessa dedicatória, fato esse que veremos mais tarde. Em Vênus e Adônis, um inocente Adônis rejeita os avanços sexuais de Vênus (mitologia); enquanto que o segundo poema descreve a virtuosa esposa Lucrécia que é violada sexualmente. Ambos os poemas, influenciados pela obra Metamorfoses, do poeta latino Ovídio, demonstram a culpa e a confusão moral que resultam numa determinada volúpia descontrolada. Ambos tornaram-se populares e foram diversas vezes republicados durante a vida de Shakespeare. Uma terceira narrativa poética, A Lover's Complaint, em que uma jovem lamenta sua sedução por um persuasivo homem que a cortejou, fora impresso na primeira edição do Sonetos em 1609. A maioria dos estudiosos hoje em dia aceitam que fora Shakespeare quem realmente escreveu o soneto A Lover's Complaint. Os críticos consideram que suas qualidades são finas e dirigidas por efeitos.

Sonetos:

Publicado em 1609, a obra Sonetos foi o último trabalho publicado de Shakespeare sem fins dramáticos. Os estudiosos não estão certos de quando cada um dos 154 sonetos da obra foram compostos, mas evidências sugerem que Shakespeare as escreveu durante toda sua carreira para leitores particulares.

Ainda fica incerto se estes números todos representam pessoas reais, ou se abordam a vida particular de Shakespeare, embora Wordsworth acredite que os sonetos abriram suas emoções. A edição de 1609 foi dedicada a "Mr. WH", creditado como o único procriados dos poemas. Não se sabe se isso foi escrito por Shakespeare ou pelo seu editor Thomas Thorpe, cuja sigla aparece no pé da página da dedicação; nem se sabe quem foi Mr. WH, apesar de inúmeras teorias terem surgido a respeito.

Os críticos elogiam os sonetos e comentam que são uma profunda meditação sobre a natureza do amor, a paixão sexual, a procriação, a morte e o tempo.

Especulações quanto à sua identidade:

Alguns estudiosos e pesquisadores acreditam na hipótese de que Shakespeare não seja realmente o autor das próprias obras, discutindo a questão da identidade de Shakespeare. A maioria dos pesquisadores, porém, despreza essa hipótese.

Principais obras

Comédias:

Tragédias:

Dramas históricos:

domingo, 26 de julho de 2009

Paralisia do Sono.



Paralisia do Sono é uma condição caracterizada por uma paralisia temporária do corpo imediatamente após o despertar ou, com menos freqüência, imediatamente antes de adormecer.

Fisiologicamente, ela é diretamente relacionada à paralisia que ocorre como uma parte natural do sono REM, a qual é conhecida como atonia REM. A paralisia do sono ocorre quando o cérebro acorda de um estado REM, mas a paralisia corporal persiste. Isto deixa a pessoa perfeitamente consciente, mas incapaz de se mover. Além disso, o estado pode ser acompanhado por alucinações hipnagógicas.

Com freqüência, a paralisia do sono é vista pela pessoa afligida como nada mais do que um sonho. Isto explica muitos relatos de sonhos nos quais as pessoas se vêem deitadas na cama e incapazes de se mover. As alucinações que podem acompanhar a paralisia do sono tornam mais provável que as pessoas que sofram do problema acreditem que tudo não passou de um sonho, já que objetos completamente fantasiosos podem aparecer no quarto em meio à objetos normais. Alguns cientistas acreditam que este fenômeno está por trás de muitos relatos de abduções alienígenas e encontros com fantasmas.

Sintomas

Os sintomas da paralisia do sono incluem:

Paralisia: ela ocorre pouco antes da pessoa adormecer ou imediatamente após despertar. A pessoa não consegue mover nenhuma parte do corpo, nem falar, e tem apenas um controle mínimo sobre os olhos e a respiração. Esta paralisia é a mesma que acontece quando uma pessoa sonha. O cérebro paralisa os músculos para prevenir possíveis lesões, já que algumas partes do corpo podem se mover durante o sonho. Se uma pessoa acorda repentinamente, o cérebro pode pensar que ela ainda está dormindo, e manter a paralisia.

Alucinações: Imagens e sons que aparecem durante a paralisia. A pessoa pode pensar que existe uma presença atrás dela ou pode ouvir sons estranhos. As alucinações parecem-se muito com sonhos, possivelmente fazendo a pessoa pensar que ainda está sonhando. Algumas pessoas relatam também sentirem um peso no peito, como se alguém ou algum objeto pesado estivesse pressionando-o.

Estes sintomas podem durar de alguns poucos segundos até vários minutos e podem ser considerados assustadores para algumas pessoas.

Possíveis Causas:

A paralisia do sono acontece durante o período de sono REM, prevenindo assim movimentos corporais durante um sonho. Muito pouco se sabe sobre a fisiologia da paralisia do sono. Entretanto, já sugeriu-se que ela pode estar relacionada à inibição pós-sináptica de neurônios motores na ponte do tronco cerebral. Particularmente, níveis baixos de melatonina podem interromper a despolarização em atividade nos nervos, a qual previne o estímulo dos músculos.

Vários estudos concluíram que a maioria das pessoas experimentará a paralisia do sono pelo menos uma ou duas vezes em suas vidas.

Muitas pessoas que freqüentemente passam pela paralisia do sono também sofrem de narcolepsia. Alguns estudos sugerem que existem vários fatores que aumentam a probabilidade da ocorrência de paralisia do sono e de alucinação. Eles incluem:

  • Dormir de barriga para cima
  • Agenda de sono irregular; cochilos; privação de sono
  • Stress elevado
  • Mudanças súbitas no ambiente ou na vida de alguém
  • Um sonho lúcido que imediatamente precede o episódio. A indução consciente da paralisia do sono também é uma técnica comum para entrar em um estado de sonho lúcido.
  • Sono induzido através de medicamentos, como anti-histaminas
  • Uso recente de drogas alucinógenas
Tratamento:

Clonazepam é altamente efetivo no tratamento da paralisia do sono.[2] A dose inicial é 0.5 mg antes de dormir, embora um aumento de 1 mg por noite possa ser necessário para manter a potência.

Ritalina já foi usada com sucesso como um medicamento diurno para promover padrões de sono estruturados e a prevenção da paralisia do sono em alguns adultos. Deve-se tomar cuidado em monitorar a pressão sangüínea em meio à outros testes apropriados. A dosagem começa em 20mg por dia (manhã) aumentando semanalmente até que os episódios diminuam.

Referências Culturais:

  • Na cultura Hmong, paralisia do sono descreve uma experiência chamada "dab tsog" ou "demônio apertador" da frase composta "dab" (demônio) e "tsog" (apertar, esmagar). Freqüentemente, a vítima afirma enxergar uma figura pequena, não maior que uma criança, sentando em sua cabeça ou peito.
  • Na cultura vietnamita, a paralisia do sono é conhecida como "ma de", que significa "segurado por um fantasma". Muitas pessoas nesta cultura acreditam que fantasmas entram no corpo das pessoas causando a paralisia.
  • Na China, paralisia do sono é conhecida como "鬼压身" (pinyin: guǐ yā shēn) ou "鬼压床" (pinyin: guǐ yā chuáng), o que pode ser traduzido literalmente como "corpo pressionado por um fantasma" ou "cama pressionada por um fantasma".
  • Na cultura japonesa, a paralisia do sono é conhecida como kanashibari (金縛り, que significa literalmente "atado ao metal".
  • Na cultura popular húngara a paralisia do sono é chamada "lidércnyomás" ("lidérc pressionante") e pode ser atribuída à um número de entidades sobrenaturais como "lidérc" (aparições), "boszorkány" (bruxas), "tündér" (fadas) ou "ördögszerető".

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Educação Infântil.


Considera-se como Educação infantil, o período de vida escolar em que se atende, pedagogicamente, crianças com idade entre 0 e 6 anos (Brasil). Na Educação Infantil as crianças são estimuladas através de atividades lúdicas e jogos, a exercitar suas capacidades motoras, fazer descobertas, e iniciar o processo de letramento.

Legislação:

No Brasil, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional chama o equipamento educacional que atende crianças de 0 a 3 anos de CRECHE. O equipamento educacional que atende crianças de 4 a 6 anos se chama PRÉ-ESCOLA.

Recentes medidas legais modificaram o atendimento das crianças PRÉ-ESCOLA, pois alunos com seis anos de idade devem obrigatoriamente estar matriculados no primeiro ano do Ensino Fundamental.

Os dispositivos legais que estabeleceram as modificações citadas são os seguintes:

  • O Projeto de Lei nº 144/2005, aprovado pelo Senado em 25 de janeiro de 2006, estabelece a duração mínima de 9 (nove) anos para o ensino fundamental, com matrícula obrigatória a partir dos 6 (seis) anos de idade. Essa medida deverá ser implantada até 2010 pelos Municípios, Estados e Distrito Federal. Durante esse período os sistemas de ensino terão prazo para adaptar-se ao novo modelo de pré-escolas, que agora passarão a atender crianças de 4 e 5 anos de idade.
  • Origem da Educação Infantil no mundo:

    O modo de lidar com as crianças na idade média era baseado em alguns costumes herdados da Antigüidade. O papel das crianças era definido pelo pai. Os direitos do pai no mundo grego que o pai, além de incluir total controle sobre o filho, incluía também de tirar-lhe a vida, caso o rejeitasse. No mundo germânico, além do poder do pai exercido no seio da família, existia o poder patriarcal, exercido pela dominação política e social. Nas sociedades antigas, o status da criança era nulo. Sua existência no meio social dependia totalmente da vontade do pai, podendo, no caso das deficientes e das meninas, ser mandadas para prostíbulos em lugar de serem mortas, em outros casos, (as pobres) eram abandonadas ou vendidas. Com a ascensão do cristianismo, o modo de lidar com as crianças mudou, apesar da mudança ter sido um processo lento.

  • Maria Montessori foi uma das precursoras do tema.

A origem da Educação Infantil no Brasil:

O atendimento às crianças de 0 a 6 anos em instituições especializadas tem origem com as mudanças sociais e econômicas, causadas pelas revoluções industriais no mundo todo. Neste momento as mulheres deixaram seus lares por um período, onde eram cumpridoras de seus afazeres de criação dos filhos e os deveres domésticos, cuidando do marido e família, para entrarem no mercado de trabalho . Atrelado a este fato, sob pressão dos trabalhadores urbanos, que viam nas creches um direito, seus e de seus filhos, por melhores condições de vida, deu-se início ao atendimento da educação infantil (termo atual referente ao atendimento de crianças de 0 a 6 anos) no Brasil.

Até 1920, as instituições tinham um caráter exclusivamente filantrópico e caracterizado por seu difícil acesso oriundo do período colonial e imperialista da história do Brasil. A partir desta data, deu início á uma nova configuração,"Na década de 1920 , passava-se á defesa da democratização do ensino, educação significava possibilidade de ascensão social e era defendida como direito de todas as crianças, consideradas como iguais" (Kramer, 1995, p.55).

Na década de 1930, o Estado assumiu o papel de buscar incentivo (financiamento) de órgãos privados, que viriam a colaborar com a proteção da infância. Diversos órgãos foram criados voltados à assistência infantil, (Ministério da Saúde; Ministério da Justiça e Negócios Interiores, Previdência Social e Assistência social , Ministério da Educação e também a iniciativa privada). Nesta década passou-se a preocupar-se com a educação física e higiene das crianças como fator de desenvolvimento das mesmas, tendo como principal objetivo o combate à mortalidade infantil. Nesta época iniciou-se a organização de creches, jardins de infância e pré-escolas de maneira desordenada e sempre numa perspectiva emergencial, como se os problemas infantis criados pela sociedade, pudessem ser resolvidos por essas instituições. A iniciativa pioneira da associação Pró-Infancia, dirigida por Pérola Byington organiza na cidade de São Paulo os Parques Infantis, fundamentado na recreação, saúde e disciplina social. (Brites, 1999, p.53) Em 1935, o Departamento de Cultura da Prefeitura Municipal de São Paulo, tendo à frente o modernista Mário de Andrade são instituidos os Parques Infantis que tinham como lema educar,assistir- recrear. Em 1940 surgiu o departamento Nacional da Criança, com objetivo de ordenar atividades dirigidas à infância, maternidade e adolescência, sendo administrado pelo Ministério da saúde. Na década de 1950 havia uma forte tendência médico-higiênica do departamento nacional da Criança, desenvolvendo vários programas e campanhas visando o "... combate à desnutrição, vacinação e diversos estudos e pesquisas de cunho médico realizadas no Instituto Fernandes Figueira. Era também fornecido auxílio técnico para a criação, ampliação ou reformas de obras de proteção materno-infantil do país, basicamente hospitais e maternidades"(Kramer, 1995, p.65).

Na década de 1960, o Departamento Nacional da Criança teve um enfraquecimento e acabou transferindo algumas de suas responsabilidades para outros setores, prevalecendo o caráter médico-assistencialista, enfocando suas ações em reduzir a mortalidade materna infantil. Na década de 1970 temos a promulgação da lei nº 5.692, de 1971, o qual faz referência à educação infantil, dirigindo-a como ser conveniente à educação em escolas maternais, jardins de infância e instituições equivalentes. Em outro artigo, é sugerido que as empresas particulares, as quais têm mulheres com filhos menores de sete anos, ofertem atendimento (educacional) a estas crianças, podendo ser auxiliadas pelo poder público. Tal lei recebeu inúmeras críticas, quanto sua superficialidade, sua dificuldade na realização pois, não havia um programa mais específico para estimular as empresas a criação das pré-escolas.

Com esta pequena retrospectiva histórica, verifica-se que a Educação Infantil surgiu com um caráter de assistência a saúde e preservação da vida, não se relacionando com o fator educacional. Segundo Souza (1986) a pré-escola surgiu da urbana e típica sociedade industrial; não surgiu com fins educativos, mas sim para prestar assistência , e não pode ser comparada com a história da educação infantil, pois esta, sempre esteve presente em todos os sistemas e períodos educacionais a partir dos gregos.

A partir da década de 80, ocorre a abertura política e os movimentos pelos direitos humanos se intensificam. Na constituição de 1988 aumentam as leis que protegem os cidadãos e seus direitos, o direito a educação e o apoio à educação infantil. A partir da Constituição as famílias tem direito a creche para seus filhos até 6 anos de idade. Isso é o que diz o Art. 208 dessa constituição. Nesta época também aumenta o número de mulheres que trabalham fora, aumentando assim a demanda por creches e pré-escola.

O Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990, Lei nº 8.069/1990 diz no Art. 54: “É dever do estado assegurar à criança e ao adolescente... Parágrafo IV: Atendimento em creches e pré-escolas as crianças de 0 a 6 anos de Idade. Ou seja a Educação Infantil é um dever do estado e direito das crianças famílias.

A LDB 9.394/96 foi a primeira a incluir a educação infantil entre as diretrizes que regem a educação, porém, esta continua não sendo obrigatória, apenas direito das crianças e famílias. Nessa lei ela faz parte da primeira etapa da Educação Básica.

Essas leis trouxeram modificações para a Educação Infantil, ou seja, a partir da década de 90 ela passa a fazer parte da Educação e não mais do assistencialismo. Desse modo a formação dos profissionais também é modificada.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

A criminalidade no Brasil.


A criminalidade no Brasil ocorre devido a carência de recursos econômicos e técnicos, aliada à falta de apoio político-institucional, no governo federal e principalmente nos governos estaduais, no Legislativo e no Judiciário.
Causas:

Segundo o III Relatório Nacional sobre Direitos Humanos no Brasil, a ineficácia do Estado perante o aumento da violência gera ainda mais violações de direitos humanos e impunidade, além de aumentar o sentimento de insegurança e revolta da população.

Dados:

De acordo com o estudo, 48.374 pessoas morreram vítimas de agressão em 2004, uma média de 27 por grupo de 100 mil habitantes.

Na faixa etária de 15 a 24 anos, foram 18.599 mortes, média de 51,6 por 100 mil. Entre 2002 e 2005, 3.970 pessoas foram mortas por policiais no Rio de Janeiro e, em de São Paulo, 3.009. O estudo apontou também um aumento dos conflitos rurais que passaram de 925 em 2002 para 1.881 em 2005. O número de mortes nessas disputas quase duplicou no período, subindo para 102 vítimas.

A conclusão é de que houve retrocesso nessa área de 2002 a 2005.

Trabalho infantil como forma de violência:

A exploração do trabalho infantil cresceu nomeadamente no Nordeste e Sudeste do Brasil, apresentando decréscimos nas outras regiões. O estudo mostra igualmente que 151.227 novos casos de trabalho infantil foram detectados de 2004 para 2005, subindo de 1.713.595 para 1.864.822 registos.

Outra conclusão do relatório é a de que persiste o trabalho escravo em todas as regiões do Brasil, à excepção do Sul.

Em 2004, os pesquisadores da USP registaram 8.806 casos de trabalho análogo ao escravo no país.

Punições:

O relatório enfatiza que a maioria dos homicídios é precariamente investigada e que uma «ínfima parte dos responsáveis é denunciada e condenada».

A conclusão é de que houve retrocesso nessa área de 2002 a 2005.

O estudo aponta também falhas nos sistemas policial e penitenciário e denuncia a participação de autoridades em violações aos direitos humanos.

A Criminalidade no Brasil bate recorde, apavora a sociedade e os governantes não conseguem vencer os bandidos.

Alexandre Secco VEJA - 7/6/00

Há uma sensação generalizada na sociedade de que o Brasil pode estar perdendo a chance de vencer a guerra contra o crime. Observem-se os seguintes números. São de assustar. .50% dos moradores das capitais evitam sair à noite com medo dos assaltantes, 38% já não circulam por algumas ruas que consideram perigosas e 24% mudaram o trajeto até a escola ou até o trabalho para se esquivar do contato com ladrões. Por medo de se meter em confusão, uma multidão de brasileiros, estimada em 15% da população, evita conversar com estranhos e até mesmo com vizinhos. Os dados fazem parte de uma pesquisa encomendada pelo Ministério da Justiça com 1.600 pessoas em dez capitais cujo objetivo foi avaliar o impacto da criminalidade na população. .Outra pesquisa, realizada pelo instituto Vox Populi em cinqüenta cidades brasileiras, mostra que a criminalidade é citada em quarenta municípios como um dos três problemas que mais preocupam a população. Em vinte cidades, o crime já é o problema número 1.

A frota de blindados no Brasil dobrou. Já dá para blindar um carro em mensalidades de 1 000 reais. O mercado local só perde para o do México e o da Colômbia, países que enfrentam a guerrilha .O Brasil tornou-se o terceiro maior mercado de carros blindados do mundo. Perde apenas para a Colômbia e o México. Em 1997, havia dez empresas explorando esse mercado, e a frota de blindados era de um veículo para cada 20.000 carros em circulação no país. Atualmente, passados apenas tr ês anos, há um número cinco vezes maior de firmas especializadas em blindagem no Brasil. E a frota de veículos com essa proteção dobrou. O novo filão são os consórcios para atender a classe média alta. É possível blindar o carro a partir de 1.000 reais por mês. .Para se proteger dos bandidos, indústrias, lojas e condomínios mantêm um exército de 1,3 milhão de pessoas trabalhando como seguranças em todo o país. É um contingente de guardas cujo tamanho equivale ao dobro do efetivo de toda a força policial d os 27 Estados brasileiros. O mercado de segurança vem crescendo a uma taxa de 30% ao ano. Uma em cada catorze residências brasileiras possui algum equipamento para prevenção de assalto, além das grades – o dobro do que havia cinco anos atrás. .Um em cada cinco jovens brasileiros que vivem nas maiores capitais já viu o corpo de alguém que morreu assassinado. A pesquisa foi conduzida pela socióloga Nancy Cardia, da Universidade de São Paulo, especialista em estudos de violência. Quem sai de casa numa metróp ole brasileira convive com a possibilidade concreta de ser alvo de um ataque físico. Assaltos no semáforo e seqüestros relâmpagos tornaram-se ocorrências comuns. Entre os habitantes das grandes cidades, todos sem exceção têm algum parente ou amigo ou colega de trabalho que já esteve sob a ameaça de um revólver na cabeça. Pela repetição, os casos de assalto a mão armada só chamam a atenção da opinião pública quando o assaltante mata a vítima. Os estudiosos dizem que, num cenário agudo de banditismo como o que se vive no Brasil, as pessoas desenvolvem um sistema de proteção, uma carapaça que as faz parecer menos sensíveis. Quando se dá um assassinato numa cidade do interior, o acontecimento traumatiza a sociedade local. Em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Vitória ou no Recife, o crime de morte tornou-se ocorrência banal porque acontece às dúzias – a cada semana.

O Brasil está ultrapassando todos os limites do tolerável nessa área. De acordo com os últimos dados confiáveis, referentes a 1997, ocorrem 40.000 assassinatos por ano no país. O número frio adquire um significado sinistro quando se descobre que, nesse terreno, o Brasil supera sozinho a soma dos assassinatos ocorridos anualmente nos Estados Unidos, Canadá, Itália, Japão, Austrália, Portugal, Inglaterra, Áustria e Alemanha. Repita-se: há mais homicídios no Brasil que em todos esses paí ses somados. Assim, o Primeiro Mundo só alcança a estatística brasileira de homicídios quando reúne uma população por volta de 700 milhões de habitantes. Troquem-se as nações ricas pelos países da América Latina, onde a realidade social é semelhante à brasileira, e a comparação continua escandalosa. Nesse cenário, com 24 assassinados por 100.000 habitantes, a taxa nacional de homicídios equivale ao quádruplo do índice da Costa Rica e é nove vezes superior à da Argentina. O Brasil só perde no ranking dos h omicídios para a imbatível Colômbia (78 mortos por 100.000 habitantes), Honduras (64 por 100.000) e Jamaica (29). Durante uma entrevista na semana passada, o presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães, sugeriu uma solução radical para reverter as estatísticas. Ele defendeu o emprego das Forças Armadas no policiamento de rua. No México, onde essa prática foi tentada, os militares se envolveram com corrupção, e os confrontos com bandidos ficaram mais sangrentos. Em resposta à sugestão de ACM, o presiden te Fernando Henrique Cardoso, que estava em viagem à Alemanha, afirmou: "A segurança é uma matéria séria. Não se pode resolver a questão com atos isolados, nem espetaculares. É um processo contínuo". Não importa o crime escolhido, o Brasil está sempre numa posição crítica. Na indústria mundial do seqüestro, o Brasil é o quarto país onde esse crime ocorre com maior freqüência. Perde para a Colômbia do narcotráfico, da guerrilha de esquerda e dos grupos paramilitares de direita. Fica atrás também do México e da Rússia. Em se tratando desses países, a posição brasileira está longe de ser confortável. A taxa de homicídios do Rio, 69 mortos por 100.000 habitantes, é quatro vezes maior que a de Moscou, nove vezes superior à de Nova York e 23 vezes maior que a de Paris. O Rio perde para Cali, cidade colombiana mergulhada na nuvem de crimes que cerca as quadrilhas da cocaína, e também para capitais de países africanos que estão em guerra. Quando se deixam fora da comparação exceções como essas, o Rio e meia dúzia de outras metrópoles brasileiras são imbatíveis.

Dobro de chacinas – Pobres ou ricas, todas as nações convivem com níveis altos de criminalidade em algum momento de sua história. As cidades americanas de Nova York, San Diego e Boston festejam um momento glorioso no combate ao crime, enquanto no mesmo país Washington e Detroit mantêm padrões brasileiros de violência. O que torna o Brasil especial é que o crime se transformou por aqui em epidemia que se alastra de maneira aparentemente descontrolada. Em 1980, ocorria um ass assinato a cada 53 minutos. Há dez anos, o índice subiu para uma morte a cada 21 minutos. Atualmente, dá-se um assassinato a cada treze minutos. Até os anos 90, apenas a periferia das duas maiores cidades do país, São Paulo e Rio, apresentavam taxas de homicídio de padrão colombiano. Na última década, outras três periferias entraram para o clube da alta mortalidade: as de Brasília, Vitória e Recife.

Coletes à prova de bala, antes restritos, agora estão nas lojas. O número de residências com equipamentos de segurança dobrou nos últimos cinco anos. Nas grandes cidades podem-se comprar alarmes e monitores de vídeo em supermercados Tão preocupante quanto o aumento do número de assaltos, seqüestros, roubo a bancos, latrocínio, estupros e outros crimes listados no Código Penal é que a ação do Estado vai surtindo efeito cada vez menor nas estatísticas. Entre 1995 e 1999, o i nvestimento público em segurança no Brasil subiu 30% e atingiu nível recorde. As exigências para a contratação de policiais aumentaram. Os novos soldados precisam ter o 2º grau. Antes, só se exigia o 1º. O salário aumentou em média 10% e os policiais militares ganharam um seguro de vida. Só no Estado de São Paulo foram gastos no ano passado 11 bilhões de reais em segurança – algo como a metade do orçamento empregado para manter em prontidão os 350.000 homens das Forças Armadas. O governo paulista comprou três helicópteros, 4 500 viaturas novas e 10.000 coletes à prova de bala. A polícia trabalhou mais do que nunca – e matou mais do que nunca também. Efetuou a cifra impressionante de 120.000 prisões em 1999, 50% mais que no ano anterior. Nada, absolutamente nada disso conteve a criminalidade. No mesmo período em que o governo paulista fez esse enorme esforço, o número de homicídios cresceu 30% no Estado. A quantidade de furtos e roubos de veículos dobrou. As chacinas dobraram em 1999 em relação a 1998. "Qu em se dedica a entender o que aconteceu desanima", diz o professor da Universidade Federal de Minas Gerais Claudio Beato, especialista em criminalidade.

A advogada Olívia Libório, de Salvador: 15% do salário vai para um segurança. Nesse ambiente de alto risco, os brasileiros fazem o que podem para se proteger. Apavorada com a possibilidade de ser assaltada pela quinta vez em poucos meses, a advogada baiana Olívia Libório decidiu entregar 15% de seu salário a um segurança particular que a acompanha pelas ruas de Salvador. "Tenho pânico de sair na rua", diz. "Para enfrentar os ladrões, só com segurança máxima", afirma Gladyst on Brandão, síndico de um prédio em Belo Horizonte equipado com circuito de interfones e sistema interno de câmaras de vídeo. Depois que os bandidos furaram o esquema de segurança e assaltaram o prédio, os moradores resolveram instalar cercas elétricas, mais dois porteiros foram contratados e o número de câmaras triplicou.

Gladyston Brandão, síndico em Belo Horizonte, triplicou o número de câmaras, instalou uma cerca elétrica e contratou mais dois porteiros para se proteger Há diversas teorias sobre as origens da criminalidade e as formas de combatê-la, mas são duas as correntes principais que surgem nos debates. Há um segmento de durões, representado, entre outros, pelo ex-governador paulista Paulo Maluf. Ele defende que o banditismo se combate com polícia na rua e repressão pesada. Outro se gmento, integrado por analistas com maior sensibilidade social, acredita que o crime é conseqüência direta e exclusiva da disparidade de renda entre a camada rica e a pobre da população, entrando aí não apenas o diferencial monetário, mas também as carências educacionais e sanitárias da parte mais numerosa dos brasileiros. São duas explicações que normalmente se repelem devido aos interesses políticos e ideológicos dos que as defendem, mas até o senso comum indica que elas se complementam, não se excluem. Não só isso. As razões da criminalidade e as ferramentas para combatê-la não se resumem a uma encruzilhada simplista com uma de duas opções obrigatórias. "Tentar simplificar essa discussão seria mais ou menos como buscar uma resposta única à pergunta: 'O que é preciso fazer para criar um filho?'", compara o advogado Márcio Thomaz Bastos, um dos criminalistas mais respeitados do país. Em torno da criminalidade há diversas verdades e muitos mitos. Algumas das verdades:

. Quanto mais cresce um país, menores são as taxas de criminalidade. Nos Estados Unidos, a taxa de crimes caiu pela oitava vez consecutiva no ano passado. O bom momento coincide com a fase positiva experimentada pela economia americana. O produto interno bruto cresceu mais de 7% ao ano nos EUA nos últimos dez anos e o desemprego é inferior a 4%, equivalente à situação de pleno emprego. No Brasil, a taxa de crimes violentos não pára de aumentar desde 1990. Nesse período, a ec onomia cresceu a uma taxa de 0,5% a 1% ao ano, em média. O desemprego brasileiro situa-se na casa dos 8%, taxa muito superior à média de 5% verificada no início da década de 80 ou aos 4% do início da década seguinte, de acordo com os cálculos do IBGE. .

Na maior parte dos homicídios, a vítima conhecia seu algoz. Em alguns casos, o assassinato é o desfecho de uma desavença entre vizinhos ou o saldo de uma briga entre marido e mulher. Em outros casos, a vítima devia dinheiro ao assassino ou a alguém para quem ele trabalha. No terreno da droga, é muito comum a cobrança de dívidas com balas na testa do inadimplente.

. A droga é a grande vilã. Calcula-se que a cocaína ou o crack estejam por trás de 60% dos assassinatos. Traduzindo: as taxas referentes a latrocínio, quando se mata para roubar, formam um pequeno universo de 5% a 6% dos casos de assassinato.

. O planejamento centralizado não costuma apresentar bons resultados. O governo Fernando Henrique Cardoso promete anunciar no próximo mês um programa nacional antiviolência. São trinta medidas para atacar a criminalidade. A proposta mais destacada prevê a criação de um fundo de 100 milhões de reais que o governo poderá usar para estimular políticas regionais de combate ao crime. A maior lição que os Estados americanos estão aprendendo é que cada região ou cidade tem uma pecu liaridade. A polícia também é diferente de um lugar para outro. Em alguns centros, o principal motor do crime é o crack, como em São Paulo. Em outros, como o Rio, o motivo de maior peso é a cocaína. Os programas de combate à criminalidade mais bem-sucedidos levam em conta diferenças como essas. O controle deve ser feito no distrito policial, com apoio financeiro e estratégico do governo federal, que pode fornecer estatísticas e patrocinar estudos.

. A criminalidade eterniza a pobreza e sua erradicação conduz à riqueza. Segundo o jornal americano The New York Times , na periferia de Chicago, onde a criminalidade sofreu uma redução de 36% entre 1992 e 1998, casas que dez anos atrás estavam avaliadas em 15 000 dólares estão valendo hoje dez vezes mais. . O combate ao crime começa na própria polícia. Em Washington, uma das cidades mais violentas dos Estados Unidos, que ostenta índices de criminalidade equivalentes aos do Terceiro Mundo, um terço da polícia está envolvido em casos de corrupção. A diferença é que essa turma está sendo colocada no olho da rua. No Brasil, as provas exigidas para demitir um policial corrupto só podem ser obtidas por outro policial. O resultado é patético. É comum encontrar na chefia de um setor delegados que respondem a processos criminais. Trabalham às vezes ao lado do colega que o investiga. Há 300 000 policiais atuando em nove dos maiores Estados brasileiros. Destes, 30 000 são acusados de algum crime – 50% deles apontados como autores de delitos pesados, como roubo a banco e a cargas, extorsão, seqüestro, homicídio e tráfico de drogas.

. O crescimento desordenado contribui para o aumento da criminalidade. Um caso clássico é uma região que forma um cinturão de pobreza em torno de Brasília. A população dessa região passou de 60 000 para 80 000 habitantes em cinco anos. Completamente abandonada pelo governo de Goiás, onde está localizada, sofre com as maiores taxas de criminalidade do Brasil. Nessa área, formam-se grandes aglomerações sem escolas, sem água, sem luz e sem a rede de proteção social organizada p or associações de moradores, igrejas e clubes. Os estudiosos acreditam que num ambiente tão rarefeito os jovens que têm alguma predisposição para transgredir a lei acabam recebendo o estímulo máximo de que necessitam. Acima estão algumas verdades sobre a criminalidade. Agora, vamos a alguns mitos que a cercam:

O que falta no Brasil é uma legislação mais dura contra os criminosos. Os perfis psicológicos traçados sobre os criminosos em todo o mundo mostram que eles calculam os custos e os benefícios de sua ação, como qualquer pessoa. Mas o bandido é sensato o suficiente para avaliar o risco prático de ser apanhado pela polícia, e não o risco teórico representado por uma legislação dura que dificilmente será aplicada. Há trabalhos internacionais que indicam que a prisão de um crimin oso desencoraja a ocorrência de quinze outros crimes violentos por ano. No Brasil, onde apenas 2,5% deles são desvendados, o aumento isolado da punição no Código Penal parece não assustar os bandidos. Desde 1988, vários crimes foram classificados como hediondos, o que torna as penas mais pesadas. Mas isso não baixou a criminalidade.

É difícil combater o crime porque ele é praticado de forma pulverizada. Ocorre exatamente o oposto. Como o crime acontece com mais intensidade em determinadas áreas, isso facilita o combate da polícia. A verdade é que mais de 40% de todos os crimes praticados no Brasil se concentram em regiões onde vivem 17% da população, basicamente na periferia do Rio de Janeiro e de São Paulo. Outra pesquisa conduzida nos Estados Unidos revela que 90% dos crimes se dão em 5% das ruas de uma cidade. Simulações realizadas em São Paulo pelo Instituto Fernand Braudel e em Belo Horizonte pela Universidade Federal de Minas Gerais chegaram às mesmas conclusões: a polícia tem meios de saber onde ocorrem os crimes para agir nesses lugares.

O Brasil não consegue baixar a criminalidade porque não copia modelos de sucesso. Não é necessário buscar a fórmula única. Há várias soluções eficientes. Nos Estados Unidos, a cidade de San Diego, na Califórnia, é a recordista na diminuição da criminalidade. Lá, os assassinatos caíram 76,4% nos últimos cinco anos. Qual é o segredo de San Diego? A cidade optou pelo policiamento comunitário. Em vez de contratar novos policiais, a prefeitura começou a treinar os moradores para que eles colaborem de forma mais eficaz com a polícia, vigiando as ruas de seus bairros e prestando informações sobre a circulação de suspeitos. Além disso, foram contratados aposentados para fazer rondas pela cidade. Nova York, que teve uma redução de 70,6% nos assassinatos de 1994 a 1999, adotou programas agressivos de repressão e intolerância total diante de pequenos delitos, o chamado Tolerância Zero. Para atacar a criminalidade, as autoridades dividiram a cidade em setores e nomearam um responsável para cada um deles. Sua missão era identificar as quadrilhas que atuavam em sua área e desbaratá-las. Além desse trabalho, projetos de assistência social foram financiados com dinheiro público e com a ajuda de organizações não governamentais. Gastaram-se bilhões de dólares para combater a pobreza e o desemprego. Programas de reciclagem e capacitação profissional foram aplicados aos condenados, para que pudessem arranjar emprego depois de cumprir pena. Boston, que registrou queda de 69,3% nas mortes violen tas, a terceira do ranking, aplicou um programa diferente. A prefeitura encomendou uma pesquisa à Universidade Harvard a fim de descobrir quais eram as principais fontes da criminalidade violenta na cidade. Em seguida, a polícia começou uma ação seletiva de combate aos crimes mais graves. O esforço policial foi concentrado na violência causada por armas de fogo. O problema das gangues de jovens e do tráfico de drogas foi abordado de uma forma não policial. As igrejas locais foram chamadas a colaborar com a polícia no terreno da orientação à juventude. A estratégia funcionou. Há algumas coisas básicas que se podem fazer para atacar a criminalidade – nenhuma delas fácil. É preciso começar pela limpeza da polícia. De nada adianta ter policial na rua se ele vai extorquir o traficante em vez de prendê-lo. É muito difícil operar essa transformação, já que o policial é um funcionário público estável que só pode ser demitido por justa causa. Além disso, a parte honesta da polícia necessita de tratamento mais dece nte. Deve ter melhor treinamento e salários mais altos. Um patrulheiro de rua dos Estados Unidos chega a ganhar até seis vezes mais que um policial brasileiro. Salários ruins espantam os candidatos mais qualificados e produzem uma força desmotivada. Vale a pena tentar a reforma. Um estudo feito nos EUA mostra que cada policial que vai para as ruas evita de vinte a trinta crimes graves.

O PM brasileiro tem carro, mas...... não tem rádio A polícia brasileira gasta em armas, coletes, carros caros e helicópteros, compras indispensáveis ao desempenho de seu trabalho. No ano passado, a PM paulista adquiriu quarenta jipes de 50 000 reais cada um (no alto). Segundo os especialistas, as autoridades são mais atentas às grandes compras que às pequenas. Exemplo: o PM brasileiro não possui um rádio de comunicação individual. Na foto, um grupo de policiais a mericanos, todos com rádio portátil. Fotos: Ricardo Benichio (no alto) e P. Landmann/Sygma Polícia melhor não basta. Na periferia das grandes cidades brasileiras, o Estado não aparece. Escolas, organizações esportivas, centros comunitários que ofereçam apoio às famílias são fundamentais como barreiras à expansão do crime. Creches para ajudar as mães e centros de treinamento de mão-de-obra ou mesmo cursos de arte ou algum tipo de diversão para as crianças e jovens também têm papel decisivo. Em lugares miseráveis, os jovens não vêem esperança alguma no horizonte. Se nada parece confiável, se nenhuma alternativa se apresenta, então por que não pegar uma arma e fazer um assalto? O cenário social desolador forja criminosos também. Políticas que aumentem o emprego e reduzam as diferenças de renda responsáveis pela criação de uma gigantesca casta de excluídos obviamente teriam um impacto imediato na redução dos índices de criminalidade brasileiros. Nenhuma dessas providências funciona a contento de f orma isolada. Nenhuma delas pode ser alcançada imediatamente e sem uma determinação muito grande. Mas o quadro da violência deteriorou-se de maneira assustadora. É preciso tentar alguma solução. Já. Indaiatuba, no interior de São Paulo, é conhecida como a cidade de veraneio dos milionários paulistas. Um de seus bairros, o Helvetia, concentra uma centena de mansões e 22 campos de pólo. De janeiro para cá, o pânico se alastrou na região. Em cinco meses, treze pessoas foram seqüestradas. Alguns freqüentadore s estão trocando as mansões por casas dentro de condomínios fechados. Em dois meses, um sistema de câmaras vai fiscalizar as vias de acesso da cidade. Cristine Prestes

Com reportagem de Cristine Prestes e Rodrigo Vergara, de São Paulo, José Edward, de Belo Horizonte, e Daniella Camargos, de Salvador

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